Parabéns, Folha, e obrigada por tudo

Hoje a Folha completa 100 anos. É o jornal mais inquieto do Brasil. É também o veículo no qual trabalhei a maior parte da minha carreira: 15 anos, somadas as duas passagens.

Você não sai o mesmo depois de ter passado pelo prédio das pastilhas amarelas. Impossível não se tornar um tanto mais cético, mais ácido, mais crítico, mais perfeccionista e menos condescendente.

O seu Frias costumava dizer, e o Otavio adorava repetir, que a Folha tem alma de migrante: não fica deitada sobre a conquista do dia anterior porque precisa levantar cedo e trabalhar.

Lá, já tive de fazer um relatório por ter dado um furo porque o jornal não tinha tanta certeza assim se tava certo (estava, rs). Pode ser exasperante. Já foi tema de muita sessão de terapia. Mas é a melhor escola de jornalismo que se pode ter: se você passa pela Folha, encara qualquer bucha de canhão.

Há quem nunca se encontre fora de lá. Felizmente não aconteceu comigo: fui feliz em muitas outras redações pelas quais passei, aprendendo sempre, me reinventando sempre. Mas eu sei toda e cada uma das coisas que foi a Folha que me deu: rigor, couro grosso, distanciamento em relação às fontes sempre. E amigos. Os melhores que tenho até hoje, e que vou levar para a vida toda.

Um jornal completar 100 anos no Brasil é um acontecimento, um feito a ser comemorado. A Folha vem incomodando poderosos desde sempre. A mosca na sopa que dizia a propaganda.

Na galeria, uma das manchetes assinadas que fiz no jornal, que integra a antologia de 90 textos fundamentais editada nos 90 anos do jornal. Uma manchete como essa só seria possível num jornal corajoso, que banca seus profissionais, porque se baseia no meu relato de repórter.

Viva o jornalismo livre e independente, pentelho, incômodo, mas que traz todo dia à luz aquilo que os políticos não querem que seja visto, mas a sociedade precisa ver.

Parabéns, Folha. E obrigada por tudo que você fez por mim.